domingo, 1 de maio de 2011

A Bênção do Trabalho

Uma reflexão sobre nossa vocação à luz do feriado de 1º de maio


         Durante a Idade Média, o trabalho era considerado uma tarefa indigna. Atividades artesanais como a marcenaria, a ferraria, o trabalho nos moinhos, ou mesmo a cultura dos campos e a pecuária eram relegadas àqueles que possuíam o stato de servos do feudo, pertencentes às classes menos favorecidas da sociedade. Os senhores feudais, nobres, dedicavam-se ou à arte da guerra ou à vida regalada da corte. A casta religiosa da Igreja Medieval, por sua vez, via o trabalho como uma atividade secular, algo mundano e profano, muito diferente da vida voltada para Deus: retirar-se do mundo em um mosteiro era visto como algo digno e edificante.
        Essa visão do trabalho como algo desprezível foi totalmente alterada pela Reforma Protestante. Os reformadores redescobriram no exercício da vocação de cada ser humano um dos propósitos fundamentais para o qual este foi criado. Deus criou Adão, e o colocou no Jardim do Éden, para o “cultivar e guardar” (Gn 2.15). Por meio de seu trabalho, o homem interfere sobre a Criação de Deus, dominando-a e sujeitando-a (Gn 1.36). A vocação profissional de cada indivíduo, portanto, passou a ser vista como algo tão espiritual e elevado como a própria vocação para a vida religiosa. Não há divisão entre secular e sagrado na vida do verdadeiro cristão. Tudo que ele faz, o faz para glorificar a Deus. É por isso que J. S. Bach, compositor erudito do século 17, assinava todas as suas composições – sacras ou não-sacras – com as letras S.D.G. (Soli Deo Gloria).
        Em nossos dias temos observado, no meio evangélico, um afastamento da visão reformada sobre o trabalho. Muitos evangélicos têm atribuído mais dignidade, mais nobreza, às atividades relacionadas à igreja do que aquilo que fazem no seu dia a dia. O trabalho é tido somente como a forma de se ganhar a vida. O que vale a pena mesmo é estar na igreja, orar, evangelizar.
        Essa perspectiva sobre a vida deve ser afastada de nosso pensamento. O trabalho não é apenas o que fazemos para “pagar as contas”. Deve ser visto como verdadeiro culto a Deus, atividade desenvolvida com excelência por cada um de nós. Dessa forma, sem dúvida, nosso impacto sobre a sociedade será sentido de forma muito mais abrangente, e faremos de fato diferença em qualquer esfera onde estejamos inseridos como cristãos.

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