quarta-feira, 9 de março de 2011

Série: Fundamentos bíblicos para o discipulado I

Introdução (Parte 1): No caminho de Emaús
Lucas 24: 13-35
(Ceia em Emaús, Caravaggio, 1601)
Parte I
A história do encontro entre Jesus e os discípulos no caminho de Emaús em Lucas 24 é uma das mais bonitas e intrigantes das Escrituras. É também um dos textos mais importantes para que entendamos a natureza do discipulado. Ele nos mostra os princípios fundamentais do processo que nos leva a ser verdadeiros discípulos.
A idéia de discipulado é, no contexto das igrejas evangélicas, muitas vezes associada à instrução dada aos novos convertidos. Nesta visão, o discipulado consiste no ensino básico que introduz os novos cristãos aos princípios básicos da fé. É por isso que muitos cristãos já experientes enxergam o ensino sobre o discipulado como algo irrelevante ou sem aplicação prática e direta para suas vidas.
Mas a idéia de discipulado diz respeito a tornar-se discípulo, isto é, alguém que verdadeiramente segue a Jesus. E tornar-se discípulo de Jesus é uma obra para toda a vida. Em outras palavras, ser discípulo é simplesmente ser um cristão verdadeiro. É simplesmente ser servo de Deus. Por isso, o objetivo a que todos os cristãos devem almejar é o de se tornar verdadeiramente discípulo de Jesus. É o de caminhar de tal forma que sua vida reflita tudo aquilo que Jesus é e ensina. Ser discípulo é aprender a ser como Jesus.
O texto se inicia no verso 13, situando o evento: Naquele mesmo dia. Isto é, no mesmo dia da ressurreição de Jesus, após a descoberta de que o Senhor havia ressuscitado, dois discípulos caminhavam cabisbaixos, taciturnos, tristes e frustrados, comentando o recente evento da morte de seu mestre.
Naquele mesmo dia se refere à narrativa imediatamente precedente (Lc 24:1-12) em que as mulheres já tinham passado pela experiência de encontrar os anjos e descobrir que Jesus não mais estava no sepulcro. A igreja provavelmente em estado de alerta. A notícia já se havia espalhado e até mesmo os dois discípulos desta narrativa já ouviram a respeito.
A primeira coisa que devemos levar em conta nessa história é que os discípulos realmente deveriam estar muito tristes. Aquele era o domingo, e na sexta feira, apenas dois dias antes, o seu mestre havia sido crucificado. Nos últimos anos eles haviam aprendido a depositar toda a sua confiança neste homem, que lhes havia mostrado importantes verdades da palavra de Deus, que diante de seus olhos havia realizado incríveis milagres e que, como o texto nos mostra, eles haviam aprendido a ver como o messias, o redentor de Israel, aquele que traria verdadeira libertação ao seu povo.
Então eram muitas as esperanças que aqueles dois depositaram naquele homem! E, de repente, como eles mesmos dizem (v. 20): os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
Aqui vem a tona toda a decepção daqueles homens (v. 21): “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.
Já era o terceiro dia desde que todos os seus sonhos e esperanças em relação a essa pessoa se desfizeram. Depois de tudo isto, nasce naturalmente a pergunta: “Se este homem era o messias, porque aconteceu tudo isso? Nós estávamos tão confiantes que ele traria libertação para o povo de Israel! E ele tem um fim desses...”
Então por um lado é muito fácil entender e simpatizar com o que se passa na cabeça e no coração desses homens. Por isso eles vinham de cabeça baixa, tristes e derrotados, indo embora para uma aldeia chamada Emaús, uma caminhada de pouco mais de 10 km.
Esta caminhada deve nos chamar a atenção! Aqueles homens estavam se distanciando de Jerusalém, o local onde todos estes eventos estavam acontecendo. Indo embora, para cuidarem de suas vidas! Desistiram!
O que nos chama atenção sobre esta atitude é que, se por um lado entendemos o desânimo e a frustração que se abatia sobre aqueles homens, é realmente estranho notar que eles já tinham ouvido o testemunho das mulheres acerca da ressurreição de Jesus! E o mais impressionante é que em vez de duvidar do testemunho das mulheres, lemos no verso 24 que eles dizem: “De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram”. Eles reconhecem que Jesus não havia sido visto, e poderiam não saber sobre o seu paradeiro, mas pelo menos sabiam com certeza que Jesus não se encontrava mais na sepultura!
Fica aí a pergunta: Se eles sabem que é verdade que Jesus não está mais no túmulo, e que alguém disse para eles que Jesus ressuscitou, o que estes homens estavam fazendo indo embora de Jerusalém? Será que eles não deveriam estar junto dos outros discípulos buscando saber mais sobre o que realmente havia acontecido? “Como assim?” “Jesus, o mestre, vivo?” Em vez de buscar passar essa história a limpo, eles desistem e partem para longe do local onde os eventos estão acontecendo.
É como se, para eles, a palavra final fosse a da sexta-feira. A palavra da morte e do fim da esperança. Jesus morreu. Acabou. E continuava morto. Por alguma razão eles não processaram a grandeza da informação que haviam recebido e não pensaram sobre quais seriam as implicações de Jesus não estar mais morto! Não sabemos exatamente qual o seu motivo, mas o fato é que eles estavam indo para o caminho errado!
É preciso que algo aconteça para que aqueles homens passem a compreender a importância do que estava se passando em Jerusalém. E o que precisa acontecer para que eles abram seus olhos? É preciso que Jesus se disponha e tome a iniciativa de ir ao seu encontro! Jesus precisa ir até onde eles estão, em plena estrada, em plena rota de fuga de Jerusalém para encontrá-los. Só assim se inicia o processo para que aqueles homens cheguem a um verdadeiro entendimento de quem Jesus verdadeiramente é.
O primeiro ponto do discipulado então é esse. O discipulado é uma iniciativa do próprio Jesus! É uma iniciativa do próprio Deus! Para saber como devemos caminhar junto com Jesus, ele deve tomar a iniciativa de se aproximar de nós e nos mostrar a direção. Sozinhos, partindo de nossa própria mente, coração e esforço, não conseguiremos achar o caminho do verdadeiro discipulado.
O verso 15 enfatiza: “o próprio Jesus se aproximou e ia com eles”. A expressão aparece aqui em Lucas para enfatizar que não foi um anjo, ou um mensageiro, ou mesmo outro discípulo. Era necessário que fosse o próprio Jesus. Jesus, em pessoa, se aproximou e passou a caminhar com eles.
(continua...)

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